byGicel

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Lendas e histórias Iemanjá

Conto de Iemanjá
Era o fim de uma tarde de verão. O céu estava claro e o Sol enviava seus últimos raios, banhando as águas límpidas e mornas; na areia, agora coberta de sombras, encontrava-se o repouso convidativo; no ar sentia-se o aroma da natureza.
Na praia semideserta, um homem vestido de branco, descalço, caminhava a passos lentos, porém firmes. Notava-se a seriedade que o envolvia, o olhar fixo nas águas do mar, como se algo estivesse buscando.
De repente parou e retirou do pescoço uma guia, na qual as cores azul e branca se alternavam; fazendo uma ligeira reverência, caminhou para o mar, com a água lhe chegando a a cintura.
Olhando para o céu, já agora não tão claro quanto antes, permanecia imóvel, dando a perceber que seus pensamentos estavam voltados para o astral; curvou-se lentamente e deixou que a guia fosse envolvida pela espuma branca.
Nesse, momento sentiu um tremor, todo seu corpo vibrou, como se um raio o tivesse atingido.
As águas tornaram-se revoltas, cânticos dos mais suaves começaram a ser entoados, odores agradabilíssimos inundaram o ambiente; e eis que surge sobre as ondas uma figura onipotente:
Iemanjá, Rainha do Mar !
A emoção tomou conta do filho; suas preces haviam sido atendidas e, por mais que quisesse dizer alguma coisa, não consegui falar. Apenas, com muita dificuldade, entre os lábios trêmulos, murmuro:
“Minha mãe!”
Momentos depois, quando voltou a si, encontrava-se deitado na areia, com a guia em torno do pescoço.
Levantando-se, pôs-se a caminhar e, no silêncio daquela praia , tinha um só pensamento:
´´Eu vi a Rainha do Mar! Eu vi Mamãe Iemanjá!".


Sereias, as donzelas do mar

Os antigos marinheiros que regressavam de terras e mares distantes freqüentemente contavam histórias sobre Sereias e mulheres do mar. As Sereias aparecem nas lendas mais velhas de algumas das mais antigas civilizações do mundo, tendo origem em adoração de deuses de muitas mitologias. Os Babilônicos, os Filisteus e os Sírios adoravam deuses com caldas de peixe. Sereias também aparecem em moedas fenícias e coríntias. Possêidon e Netuno, na mitologia greco-romana, também eram descritos como sendo metade homem, metade peixe, o mesmo vale para Tritão. Lendas ao redor de Alexandre, o Grande descrevem como ele visitou o fundo do oceano num globo de vidro e teve muitas aventuras ao lado de belas Sereias. Plínio conta que um oficial de César Augusto viu numerosas Sereias "arremessadas à costa e mortas" numa das praias da Gália.
A visão das Sereias como seres divinos mudou com a chegada do Cristianismo. O ícone da Sereia segurando seu pente e espelho foram primeiramente retratadas na Idade Média, vindo representar para a Igreja a vaidade, o desejo e beleza feminina, causadores da destruição do homem e da alma Cristã. De um status quase divino, as Sereias se tornaram um valor estético, o foco para misogenia que, ao invés de causar medo, tornou-a ainda mais fascinante.
Na tradição folclórica, histórias de Sereias são freqüentemente trágicas. As solitárias Sereias ocasionalmente assumem a forma humana durante uma noite para participarem de festejos celebrado em alguma aldeia. Algumas vezes, um homem tirava-lhes a capa ou cinto mágicos, impedindo-as de retornar aos mares, acarretando invariavelmente em desastre.
Casamentos entre seres humanos e Sereias raramente acabavam bem, embora muitos povos do litoral, principalmente no Nordeste da Escócia e na Cornualhia, tenham afirmado que entre seus antepassados se encontravam Sereias. Na Idade Média algumas distintas famílias francesas chegaram a falsificar suas árvores genealógicas para poderem afirmar serem descendentes da Sereia Melusina, mulher de Raymond, um parente do Conde de Poitiers.
A história de amor de Melusina também teve um final trágico. Segundo a lenda, uma das condições do casamento era a de que ele jamais poderia vê-la aos sábados, sob qualquer circunstância.
Melusina, continua a lenda, com suas próprias mãos construiu um majestoso castelo e o nomeou Lusinia. Eles tiveram vários filhos, embora cada um deles tenha apresentado alguma forma de deformidade. Um dos filhos mais jovens, por exemplo, possuía presas de javali ao invés de dentes, e ficou conhecido como Geoffrey "Le Grand Dente", conhecido também por seu temperamento violento.
Raymond e Melusina viveram felizes por muitos anos. Um sábado, porém, induzido pela maledicência de seu pai e irmãos, Raymond espreitou sua mulher durante o banho e teve uma inacreditável visão: da cintura para cima Melusina ainda era a bela mulher de sempre, mas da cintura para baixo ela estava transformada com uma calda de peixe (em algumas versões era uma calda de serpente). Mesmo chocado pela visão, Raymond não mencionou nada a respeito.
Certo dia, Melusina e Raymond foram informados que dois de seus filhos, Geoffrey e Fromont haviam lutado e que Fromont buscou refúgio em um monastério próximo. No entanto, Geoffrey, num acesso e raiva, colocou fogo no monastério, matando não só seu irmão como centenas de monges que lá se encontravam. Raymond, irado pela notícia, culpou Melusina pelo temperamento incontrolável de Geoffrey. Durante a discussão ele demonstrou saber a verdadeira natureza de Melusina, acusando-a de ter contaminado a nobre raça humana. Imediatamente após as palavras de raiva, Raymond implorou por perdão, mas já era tarde demais. Melusina o lembrou que ele havia quebrado seu voto. Melusina partiu, transformada, e Raymond nunca mais a viu.
De acordo com as lendas Francesas, Melusina pode ser vista nos arredores de Lusinia e outros castelos onde nobres e reis vivem, chorando e gritando sempre que algo trágico está para acontecer para família. Ela se tornara um arauto da morte.
Contos de fadas populares como "Ondina", escrito por Friedrich de la Motte Fouqué, e "A Pequena Sereia", de Hans Christian Andersen, possuem muitas características da lenda de Melusina e podem ser vistas como variações do mito. Com o tempo a literatura começa a usar a Sereia como uma descrição da mulher, ao invés da identificação a criatura em si. A Sereia havia se tornado uma metáfora.
Embora certamente o mito da Sereia remonte de deuses de civilizações primitivas, não se pode negar a influência que certos animais marinhos, principalmente aqueles com aparência análogas ao homem, devam ter tido para formação do mito. Independente de sua origem, o mito da Sereia não desaparece facilmente. Ainda em 1961 o Departamento de Turismo da ilha de Man, na Grã-Bretanha, ofereceu um prêmio para quem trouxesse do mar uma Sereia viva!

Os encantos de Iemanjá

Com o casamento de Obatalá, o Céu, com Odudua, a Terra, que se iniciam as peripécias dos deuses africanos. Dessa união nasceram Aganju, a Terra, e Iemanjá (yeye ma ajá = mãe cujos filhos são peixes), a Água. Como em outras antigas mitologias, a terra e a água se unem. Iemanjá desposa o seu irmão Aganju e tem um filho, Orungã.
Orungã, o Édipo africano, representante de um motivo universal, apaixona-se por sua mãe, que procura fugir de seus ímpetos arrebatados. Mas Orungã não pode renunciar àquela paixão insopitável. Aproveita-se, certo dia, da ausência de Aganju, o pai, e decide-se a violentar Iemanjá. Essa foge e põe-se a correr, perseguida por Orungã. Ia esse quase alcançá-la quando Iemanjá cai no chão, de costas e morre. Imediatamente seu corpo começa a dilatar-se. Dos enormes seios brotaram duas correntes de água que se reúnem mais adiante até formar um grande lago. E do ventre desmesurado, que se rompe, nascem os seguintes deuses: Dadá, deus dos vegetais; Xango, deus do trovão; Ogum, deus do ferro e da guerra; Olokum, deus do mar; Oloxá, deusa dos lagos; Oiá, deusa do rio Niger; Oxum, deusa do rio Oxum; Obá, deusa do rio Obá; Orixá Okô, deusa da agricultura; Oxóssi, deus dos caçadores; Oké, deus dos montes; Ajê Xaluga, deus da riqueza; Xapanã (Shankpannã), deus da varíola; Orum, o Sol; Oxu, a Lua.
Os orixás que sobreviveram no Brasil foram: Obatalá (Oxalá), Iemanjá (por extensão, outras deusas-mães) e Xango (por extensão, os outros orixás fálicos).
Com Iemanjá, vieram mais dois orixás yorubanos, Oxum e Anamburucu (Nanamburucu). Em nosso país houve uma forte confluência mítica: com as Deusas-Mães, sereias do paganismo supérstite europeu, as Nossas Senhoras católicas, as iaras ameríndias.
A Lenda tem um simbolismo muito significativo, contando-nos que da reunião de Obatalá e Odudua (fundaram o Aiê, o "mundo em forma"), surgiu uma poderosa energia, ligada desde o princípio ao elemento líquido. Esse Poder ficou conhecido pelo nome de Iemanjá.
Durante os milhões de anos que se seguiram, antigas e novas divindades foram unindo-se à famosa Orixá das águas, como foi o caso de Omolu, que era filho de Nanã, mas foi criado por Iemanjá.
Antes disso, Iemanjá dedicava-se à criação de peixes e ornamentos aquáticos, vivendo em um rio que levava seu nome e banhava as terras da nação de Egbá.
Quando convocada pelos soberanos, Iemanjá foi até o rio Ogun e de lá partiu para o centro de Aiê para receber seu emblema de autoridade: o abebé (leque prateado em forma de peixe com o cabo a partir da cauda), uma insígnia real que lhe conferiu amplo poder de atuar sobre todos os rios, mares, e oceanos e também dos leitos onde as massas de águas se assentam e se acomodam. Obatalá e Odudua, seus pais, estavam presentes no cerimonial e orgulhosos pela força e vigor da filha, ofereceram para a nova Majestade das Águas, uma jóia de significativo valor: a Lua, um corpo celeste de existência solitária que buscava companhia. Agradecida aos pais, Iemanjá nunca mais retirou de seu dedo mínimo o mágico e resplandecente adorno de quatro faces. A Lua, por sua vez, adorou a companhia real, mas continuou seu caminho, ora crescente, ora minguante..., mas sempre cheia de amor para ofertar.
A bondosa mãe Iemanjá, adorava dar presentes e ofereceu para Oiá o rio Níger com sua embocadura de nove vertentes; para Oxum, dona das minas de ouro, deu o rio Oxum; para Ogum o direito de fazer encantamentos em todas as praias, rios e lagos, apelidando-o de Ogum-Beira-mar, Ogum-Sete-ondas entre outros.
Muitos foram os lagos e rios presenteados pela mãe Iemanjá a seus filhos, mas quanto mais ofertava, mais recebia de volta. Aqui se subtrai o ensinamento de que "é dando que se recebe".

Nenhum comentário:

Postar um comentário